domingo, 28 de agosto de 2011

Micaela

olhar pueril
dos olhos seus
que ainda não existem
e na esperança paulatina
compartilho com o verde
um futuro que já existe

és nuvem branca a se dissipar
em uma lágrima que me encontra
no mistério da busca

ao lado de celulose e mel
te escrevo em papel
e sonho com o nascimento
das suas folhas fortuitas

nesse mundo
feito de céus e sonhos
não vou substistuir
as asas vindouras
do seu ser
afinal, do que são feito os anjos?

(imagem: Ludovico Einaudi - Nuvole Bianche )

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Fábula

A verdade é sempre uma esperança
de poesia incompleta
que não posso ler
pois corre mais, muito mais
quando chego perto de ver

estou, ainda
além da fábula
desta que crese
e nasce outra vez
em silêncio encontrado
para o belo
que não repete o gosto

se não posso te ver
deixe ao menos sentir sua falta

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Quanto tempo dura

nenhum tempo
é capaz de dizer
aquilo que tudo vivemos
nenhuma fala descreve
os sentimentos
que a saudade recolhe

e toda memória exerce
do início ao fim
o som de uma espécie inteira
que luta para acreditar
num propósito instantâneo
sem viver o instante
de uma vida
que só tem sentido
porque existe a morte

sábado, 13 de agosto de 2011

E assim disse Lispector

“Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.”




Clarice Lispector, A Hora da Estrela
Imagem do filme A árvore da Vida