domingo, 23 de outubro de 2011

Quem vai montar seus cavalos selvagens?

Você é perigosa porque é honesta
Você é perigosa porque não sabe o que quer
Bem, você deixou meu coração vazio como um terreno baldio
Para qualquer espírito assombrar

Você é um acidente esperando para acontecer
Você é um caco de vidro jogado na praia
Bem, você me diz coisas
Que eu sei que você não deveria
Então você me deixa fora de alcance

(U2 - Who`s Gonna Ride Your Wild Horses)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amar aos gritos

Pergunto
a uma voz ferida
qual esquina ficou aberta
depois de todas as memórias
quando já vencida
não julga aparência perdida

Não há metódos
para alcançar o prejuízo
daquele espaço
que deixamos de abraçar

Voz ferida
paixão viva
continente jovem
...no relógio que te guardei
agora não funciona mais


Psicografia

Também eu saio à revelia
e procuro uma síntese nas demoras
cato obsessões com fria têmpera e digo
do coração: não soube e digo
da palavra: não digo (não posso ainda acreditar
na vida) e demito o verso como quem acena
e vivo como quem despede a raiva de ter visto

(Ana Cristina Cesar)

domingo, 16 de outubro de 2011

Coração Vulgar

Deixa desilusão pra quem não sabe amar
E quem não sabe amar há de sofrer
Porque não poderá compreender
Que o amor que morre é uma ilusão
E uma ilusão deve morrer
O amor que morre é uma ilusão
E uma ilusão deve morrer

Um verdadeiro amor nunca fenece
E pouca gente ainda o conhece
Meu bem, se o teu amor morreu
É porque ninguém o entendeu

[Maria Bethânia diz: Lindo!]

Deixa o teu coração viver em paz
O teu pecado é querer amar demais
Morre...


(Maria Bethânia)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Infinito Cintilante

Não foi o Universo criado
nem mesmo a criação inventada
nada disso foi dito.
Tudo é inventado
quando a noite é sincera do tempo
e mesmo que a mentira seja múltipla
a
vida nunca é única!

sábado, 8 de outubro de 2011

Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!


(O bêbado e a equilibrista - Elis Regina)

sábado, 1 de outubro de 2011

A vida vivida

Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel
E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?

De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra

Que se destrói à presença das fortes claridades
Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
E cuja forma é prodigiosa treva informe?

Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino

Rio que sou em busca do mar que me apavora
Alma que sou clamando o desfalecimento
Carne que sou no âmago inútil da prece?

O que é a mulher em mim senão o Túmulo

O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?

O que é o meu amor, ai de mim! senão a luz impossível

Senão a estrela parada num oceano de melancolia
O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
Que não repousa no seio trágico do abismo?

O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado

O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?

A quem respondo senão a ecos, a soluços, a lamentos

De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio
A quem falo senão a multidões de símbolos errantes
Cuja tragédia efêmera nenhum espírito imagina?

Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a Língua

Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?

O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível

Aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo
O que é ele em mim senão o meu desejo de encontrá-lo
E o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?

O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento

O temor imperceptível na voz portentosa do vento
O bater invisível de um coração no descampado...
O que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?


[Vinícius de Moares]

Outra vez seu nome

somente tempo deixa de amar
o suficiente
para esconder o silêncio

apenas um pedaço seu
outrora presente - uma passagem
para o desespero

sua preseça

no momento
é coadjuvante de significados

todo verbo
agora é um calendário
que lembra outra vez
o seu nome