terça-feira, 29 de maio de 2012

Eu

o resto de alguma coisa
tão semelhante quanto um verso transparente
afinal, quem exerga?


um pedaço de miséria do tempo
uma exibição digital
Eu
uma dúvida sem título
promessa líquida



um pedaço de amor
corpo que não suporta
saudade das cores laranjas



memória infantil
dessa maneira
peço desculpas
ao cotidiano
que promete futuro
enquanto nega o abraço flutuante



Eu
qualquer coisa parecida com qualquer
outra coisa
uma matéria adiada
lançada ao acaso
feito poeria
um grão na existência

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Silêncio

tão estranho
belo ao mesmo tempo
o silêncio
no interior dele
tudo tem pressa


aquela voz
agora rara
ainda existe


tão veloz
na memória
monótona


ainda sofro
insensatez
inútil
impossível


uma matemática
sem números


uma vontade
interminável!

sábado, 5 de maio de 2012

Arte, poesia e preconceito

"quanto mais poético, mais verdadeiro" -  Novalis

Quando me questiono acerca de qualquer coisa, tento fazer o bom uso de minha razão, e através de evidências, posso criar o conjunto de todo o meu conhecimento (crença verdadeira justificada). Sou cético, e pratico isso cotidianamente.
A arte, por outro lado, não exige nada da razão.
Mesmo que para o processo construtivo de algo uma porcentagem derive de uma ação racional, o processo criativo, e espontâneo, não necessita da razão.

Uma obra de pintura, um quadro, um poema ou letra de música... Gita, do Raul Seixas tem um forte apelo religioso do hinduísmo (Bhagavad-Gitã). É uma das músicas mais belas do saudoso Rausito, e não preciso aceitar o hinduísmo para apreciar a música.

Mais do que isso: "odeio poesia" a pessoa diz; e no dia seguinte, ao escutar o trecho "A letra A tem meu nome" diz "nossa que coisa linda essa frase". Ok, e isso é o que se não poético?
Aliás, a maioria das músicas que gostamos possuem um fundo de arte poética, e, alguns, não reconhecem a contradição que existe quando dizem coisas do tipo "arte e poesia são coisas de viado." Já escutei isso amiúdes. Vou parafrasear um momento semelhante quando li do presidente da Liga Humanista do Brasil (Eli Vieira), e ele respondeu ( embora eu não me recorde exatamente do que se tratava, quero usar a resposta por ele dada na situação): sim, é coisa de viado, e de branco, de pardo, de negro, de umbandista, de religioso, de ateu, de psicodélico, de pessoas de olhos azuis, verdes, etc...(talvez eu tenha ampliado a lista original, que pode, seguramente, seguir infinitamente).
Além de preconceituosa e infeliz, tal tipo de expressão é um dos tipos de rólutos dos mais desprezíveis. Ok, mas "eu não gosto de arte, especialmente poesia." Direito seu, e lutarei junto com você para que tenhas a liberdade de expressar e exercer isso. Por outro lado, em um projeto de sociedade que luta por igualdade social e racial, não poderei ficar calado com tamanho preconceito que perdura nas cabeças de algumas pessoas que não sabem usar a razão, tampouco a emoção.